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O paradoxo de Tostines da direita brasileira: Bolsonaro soma ou subtrai?

Pecê Almeida Júnior é jornalista e publicitário.

 

“Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?” Se você tem meus 45 anos ou mais, certamente já viu ou ouviu esse enigma em forma de propaganda. Uma pergunta non sense que entrou para o imaginário popular.

Em 2025, a 11 meses das eleições que definirão se o presidente Lula continua no cargo ou será substituído por um adversário, a direita brasileira se vê diante de uma pergunta parecida: “Bolsonaro dá mais votos ao candidato da direita ou tira mais votos do candidato da direita?”

Como todos sabem, há alguns dias o ex-presidente Jair Bolsonaro, maior liderança popular da direita brasileira, está preso na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, cumprindo sentença de 27 anos e alguns meses por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes contra o Estado Democrático de Direito. Mesmo antes da prisão definitiva já estava inelegível e, portanto, não poderia ser candidato a presidente em 2026.

Mesmo tendo sido o primeiro presidente, desde o advento da reeleição em 1996, a não conseguir um novo mandato em sequência, sua popularidade permanece alta, impulsionada pela maior polarização política que o país já vivenciou. Sua não candidatura abriu, porém, uma disputa quase fratricida pelo seu legado.

De um lado, sua esposa Michelle e seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos lutam para que a família Bolsonaro continue em evidência, liderando uma eventual chapa da direita à Presidência mesmo sem Jair. De outro, os partidos do chamado Centrão, que na prática são todos de direita (por que ainda os chamamos de Centrão será tema para outro artigo), querem lançar um governador ligado ao bloco e recuperar o protagonismo perdido desde o esfacelamento do PSDB como força política.

Há, contudo, uma encruzilhada nesse percurso. A direita, como Alice no País das Maravilhas, está diante de dois caminhos: agarrar-se à família Bolsonaro e levar consigo sua votação, ou livrar-se da família Bolsonaro e reduzir sua rejeição. Sim, todas as pesquisas, inclusive as mais favoráveis ao bolsonarismo, mostram que candidatos da família sempre lideram os índices de rejeição em qualquer cenário estimulado. O psicodélico Gato de Cheshire responderia que qualquer caminho é válido e que ambos são perigosos.

Sem os votos de Jair Bolsonaro, que pertencem a ele e não a sua família (sem o apoio do pai, os filhos seriam politicamente inexpressivos), a direita não arranca. Fica sem largada. Porém, com o apoio de Bolsonaro, a chegada também se complica. Em eleições polarizadas, como será 2026, decide-se mais pela rejeição do que pela escolha. Torna-se uma guerra de vetos, e o eleitor pendular, não alinhado a nenhum dos polos, acaba optando pelo “menos pior”.

Jair Bolsonaro é um homem vaidoso e politicamente egocêntrico. Em toda sua carreira, nunca demonstrou confiar em lideranças fora do círculo familiar. Quando deixou a Câmara Municipal do Rio de Janeiro para tornar-se deputado federal, elegeu sua então esposa Rogéria, mãe de seus filhos mais velhos, em seu lugar. Após a separação, “passou” a vaga para o filho Carlos, então um garoto de 17 anos, que foi lançado a disputar a eleição contra a própria mãe.

À medida que seu capital político cresceu, em vez de se aliar a um deputado estadual de seu campo ideológico, preferiu lançar e eleger o filho Flávio. Quando virou nome nacional, em vez de construir uma liderança paulista, enviou para lá o filho Eduardo, eleito deputado federal. No ano passado, o quarto filho homem, Jair Renan, elegeu-se vereador em Balneário Camboriú, no estado mais bolsonarista do país. E Michelle Bolsonaro deverá ser candidata ao Senado pelo Distrito Federal.

Diante desse histórico, é difícil imaginar Bolsonaro abrindo mão da condição de líder maior da direita brasileira para alguém sem seu sobrenome. Talvez um Bolsonaro vice de um governador alinhado à direita possa acontecer, mas ainda assim é improvável. Quem for candidato em 2026 tende a se tornar, ganhando ou perdendo, o principal adversário do PT a partir de 2027, reduzindo a influência direta de Bolsonaro. Já um candidato da família preservaria o atual protagonismo.

Por outro lado, muitos deputados e senadores de direita que não integram o Centrão não têm qualquer interesse em uma candidatura mais moderada em seu campo político. É o discurso polarizado que os elege, e nesse ponto o radicalismo de Bolsonaro é imbatível.

O xadrez da direita é complexo, tanto pelas brigas internas (Michelle x enteados; Eduardo x Tarcísio de Freitas, entre outras) quanto pela permanente guerra de nervos entre a família Bolsonaro e o Centrão. E todos os atores envolvidos sabem que não há viabilidade política caso saiam separados em chapas distintas.

Enquanto negociam, a pergunta permanece no centro do tabuleiro: e Bolsonaro? Tira mais votos ou transfere mais votos?

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