
Houve um tempo em que viajei muito. Cruzava esse país chamado Minas Gerais de ponta a ponta. Ora de carro, ora de helicóptero, ora de avião. O último com mais frequência. “Minas Gerais é do tamanho da Espanha e pouco menor que a França”, repetia um chefe muito querido.
Essa comparação era necessária para explicar o porquê das políticas públicas que, além de levar em consideração as muitas características regionais, ainda tinha que se valer de estratégias para vencer os vazios assistenciais.
– Uai, mas que prosa é essa?
Se você me concede a honra de estar entre minha meia dúzia de leitores, já deve saber que costumo me perder em abstrações. Mas indo ao ponto, o que de fato quero compartilhar é a percepção equivocada que tantas vezes temos acerca do valor real das coisas.
Só me dei conta dessa visão meio torta quando os voos de helicóptero passaram a fazer parte da minha rotina profissional. Se de avião era impossível visualizar qualquer coisa, de helicóptero identificava casas, animais, pessoas em movimento, caminhos. Tudo isso em tamanho reduzido. Miniaturas reais dentro de um universo imenso. Só aí me dei conta dessa minha pequenez.
– Qual é o sentido das coisas? Qual é o valor real? O que de fato importa?
Passei a me questionar desde então. Conclui a duras penas que o valor das coisas não está na escala, mas na intensidade com que se vive. Somos miniaturas dentro de um universo imenso e ainda assim carregamos mundos inteiros em cada gesto. Talvez o sentido seja esse: reconhecer nossa pequenez e, mesmo assim, viver como se cada detalhe fosse infinito.
Esse detalhe pode estar no gesto da vizinha que bate à porta.
– Assei esses salgadinhos. Estão quentinhos. Lembrei de vocês.
Outro entrega um bolo perfumado e saboroso. Presente delicado para meu irmão que emprestou um carrinho de transportar carga.Tem ainda aquela vizinha que traz um abraço carregado de carinho.
– Só vim dar um abraço. Estava com saudades.
E aquela que levou um almoço saboroso para minha irmã, que estava acamada depois de quebrar o tornozelo em uma de suas muitas quedas?
Esses encontros, não tão frequentes, mas necessários, inundam a nossa alma de amor e nos fazem reconhecer a grandeza do gesto.
Há quem ligue só para dar um alô como quem diz: “estou aqui; você não está sozinha”. Há quem mande mensagens pelo WhatsApp com recadinhos que enternecem e deixam pistas do amor que espalhamos ao longo da vida.
Esse ensinamento sobre a grandeza das pequenas coisas não conheceu atalhos. O helicóptero me ensinou que a vida é feita de perspectivas. De longe, tudo parece irrelevante; de perto, cada detalhe ganha peso e importância. O valor real das coisas não está em sua dimensão física, mas no significado que atribuímos a elas. O que importa, afinal, não é o tamanho do mundo, mas o tamanho da nossa presença nele.
Foi ao enxergar pessoas e casas como miniaturas que percebi: somos pequenos diante da imensidão, mas é justamente essa pequenez que dá sentido ao que fazemos. O valor real das coisas está nos detalhes que, vistos de perto, sustentam o mundo.






