
CONFUSÕES
A Prefeitura de Montes Claros fez uma pequena confusão, espero que sem maiores consequências políticas ou administrativas, ao dar o nome do ex-prefeito Humberto Guimarães Souto ao Mocão — ou Arena MOC, como a atual administração está (ou estava) chamando o projeto. Isso porque o estádio seria batizado como Antônio Lafetá Rebello, outro ex-prefeito muito popular. Inclusive, quem afirmou isso foi a própria Prefeitura, na gestão do atual grupo político, quando publicou, em setembro do ano passado, pouco antes das últimas eleições, o processo licitatório 035/2024, vinculado à Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude, cujo objeto era: “Construção do Estádio Municipal Antônio Lafetá Rebello – Arena MOC, com adaptação de projetos executivos, atualização de custos e adequação às normas de segurança”.
CONFUSÕES II
Trata-se de um documento público da administração dando a Toninho Rebello o nome do futuro estádio, publicado no Diário Oficial do Município. Porém, no último dia 23 de setembro, a Prefeitura — que havia cancelado a licitação do estádio Antônio Lafetá Rebello ainda em 2024, após as eleições — publicou um novo aviso de licitação, de número 341/2025. Desta vez, para contratar apenas os projetos do futuro estádio municipal que, segundo esse documento, chamar-se-á Humberto Guimarães Souto. Ou seja: em menos de um ano, a Prefeitura de Montes Claros retirou o nome de Toninho Rebello do Mocão, batizou-o com o nome de Humberto Souto e sequer enviou um projeto de lei de autoria do Executivo à Câmara Municipal — a quem cabe, legalmente, nomear (ou desnomear) logradouros públicos — pedindo autorização ou sugerindo qualquer mudança.
CONFUSÕES III
Não estou discutindo se o estádio deve se chamar Antônio Lafetá Rebello ou Humberto Souto. Ambos são nomes dignos e relevantes para batizar qualquer obra da cidade. A questão não é essa: é a completa desorientação em algo relativamente simples. Não sei se havia lei municipal dando oficialmente o nome de Toninho Rebello ao Mocão ou se era apenas algo informal. O fato é que a combinação entre Mocão como nome de fantasia e Toninho Rebello como razão social existe pelo menos desde 1992, ano de falecimento do ex-prefeito. Se não havia projeto de lei oficializando o nome, a própria administração atual (mudou o prefeito, mas os diretamente envolvidos no processo continuam praticamente os mesmos) acabou tornando-o oficial quando publicou o primeiro edital de construção da obra no ano passado.
CONFUSÕES IV
O correto seria a Prefeitura, no momento do lançamento da nova licitação, na semana passada, ter feito isso conjuntamente com o envio de um projeto de lei solicitando à Câmara que o estádio passasse a se chamar Humberto Souto, já que essa é a intenção. Não sei sequer se o próprio Humberto aprovaria essa mudança em vida, pois Toninho foi um dos seus maiores — senão o maior — aliados políticos em sua longa trajetória. E, ato contínuo, para não ser deselegante com a memória de Toninho Rebello, que já dá nome a uma comenda da Câmara Municipal e à avenida do Córrego das Melancias, encaminhar outro projeto de lei atribuindo seu nome a outro logradouro.
CONFUSÕES V
Como a Prefeitura anunciou que no local não será construído apenas um estádio, mas um complexo de lazer, com esplanada para shows, parque ecológico etc., poderia dar o nome de Humberto Souto à Arena MOC como um todo (se é que esse nome Arena MOC ainda existe, já que não foi mencionado no novo edital) e manter o estádio como sempre foi: Estádio Antônio Lafetá Rebello. O Parque das Mangueiras é um bom exemplo de gestão de “conflitos” em torno de nomes.
CONFUSÕES VI
O ex-prefeito Luiz Tadeu Leite, ao finalizar o Parque das Mangueiras — que vinha sendo chamado informalmente de Parque João Botelho —, quis dar o nome do ex-jogador Nilson Espoletão ao campo de futebol já existente no local. Foi então alertado de que a Câmara havia dado ao estádio o nome de Juvêncio Augusto Soares, fundador do tradicional time amador Juventus. Tadeu apresentou projeto de lei ao Legislativo e batizou o parque inteiro de Nilson Espoletão, compreendendo que João Botelho já era o nome do bairro. Bairro e parque, aliás, já foram conhecidos como a “manga de João Botelho”. Assim, diferente do que parte da imprensa ainda reproduz, não existe “Parque João Botelho” nem “Estádio João Botelho”: trata-se do Estádio Juvêncio Augusto e do Parque Nilson Espoletão.
CONFUSÕES VII
Dar nome a ruas, praças, parques ou estádios está longe de ser prioridade em uma cidade com tantas necessidades. A Câmara atual aprovaria por unanimidade — 23 votos — a mudança de Mocão de Toninho Rebello para Humberto Souto. Mas, na administração pública e na política, certas liturgias precisam ser seguidas. Não sou familiar de Toninho Rebello, mas não gostaria de ver nenhum membro da minha família sendo “desomenageado”, sobretudo sem motivo.
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