
MIUDEZA
Deputados federais de extrema-direita, entre eles o mineiro Nikolas Ferreira (PL), o mais votado do país, passaram o fim de semana “denunciando” ao governo dos Estados Unidos, celebridades e influenciadores brasileiros que, em algum momento da vida, já criticaram o presidente Donald Trump. Pediam que seus vistos para os EUA fossem negados ou cancelados. Uma postura que reflete a miudeza em que se transformou a política brasileira após a ascensão de certos grupos. Em vez de se preocuparem com pautas realmente relevantes — como o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, melhorias na saúde ou na educação — estão ocupados em perseguir opositores que não seguem sua cartilha ideológica.
MIUDEZA II
O que eles propõem é absurdo sob vários aspectos e levanta uma questão: se esse pessoal voltar ao poder no Brasil, farão como Trump e cancelarão vistos de estrangeiros que eventualmente criticarem um presidente de extrema-direita eleito aqui? Já pensou se Xi Jinping se recusasse a conceder visto a políticos brasileiros que, mesmo criticando muitas vezes a China, costumam ir ao país em busca de parcerias comerciais? Ou se o próprio presidente Lula, aqui no Brasil, cancelasse o visto de extremistas de direita que frequentemente participam de eventos organizados por próceres bolsonaristas? É exatamente isso que deputados brasileiros querem que o governo dos EUA faça com seus críticos. O pior é que, além de serem brasileiros atuando contra brasileiros em defesa de uma autoridade estrangeira, esses mesmos parlamentares se autointitulam patriotas, defensores da liberdade de expressão e alegam que o Brasil vive sob uma ditadura. Vai entender.
ALIADO OU ADVERSÁRIO?
Em menos de uma semana, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, deu duas declarações polêmicas que levantam a dúvida: ele é aliado ou adversário de Jair Bolsonaro? Primeiro, em entrevista à CNN, disse que o ministro do STF Luiz Fux — o único da Primeira Turma que votou pela absolvição de Bolsonaro no processo da tentativa de golpe de Estado — poderia se candidatar a senador pelo PL do Rio de Janeiro. Se isso ocorrer, Fux repetirá o movimento de Sérgio Moro, que após condenar Lula, foi trabalhar no governo Bolsonaro e depois se lançou candidato ao Senado pelo campo bolsonarista. Para completar, em evento com empresários no sábado, Valdemar afirmou que houve planejamento para o golpe, mas, em sua opinião, a articulação não configura crime. Enquanto isso, os opositores de Bolsonaro agradecem os presentes quase diários que o bolsonarismo oferece ao discurso lulista.
ANISTIA
No momento em que a oposição pressiona o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), para pautar o projeto de lei que concede anistia a Bolsonaro e aos demais golpistas condenados, o Datafolha divulgou pesquisa sobre o tema. O levantamento, feito nos dias 8 e 9 de setembro, com 2.025 eleitores em 113 municípios, mostrou que 54% são contra a anistia e 39% a favor. Também revelou que 50% defendem a prisão de Bolsonaro, enquanto 43% são contrários. Nesta semana, o instituto Quaest deve divulgar nova rodada de pesquisas com números semelhantes.
DILEMA DO CENTRÃO
O Centrão, que tem esse nome por historicamente se posicionar no “meio” entre governo e oposição, mas que na prática reúne partidos de direita, vive um grande dilema para 2026. Quer os votos de Bolsonaro para seu candidato a presidente — hoje o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — mas não quer carregar a rejeição do ex-presidente na chapa. Uma equação quase impossível. A família Bolsonaro, se não tiver um dos seus como cabeça de chapa, imporá, no mínimo, o vice de Tarcísio. O temor do Centrão é justificável: com um Bolsonaro na chapa, será praticamente inviável dar a Tarcísio um perfil moderado. Aliás, isso já se mostra difícil diante das declarações do governador em defesa de Trump, da anistia e contra o STF.
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