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Adeus a Valmir Morais de Sá

Liderança política notável, com uma trajetória de mais de 20 anos de vida pública, sendo quatro mandatos como prefeito de Patis, Valmir Morais de Sá faleceu nesta quinta-feira (04/09), aos 73 anos de idade. O corpo está sendo velado na sede do Cimams, em Montes Claros. A causa da morte ainda não foi divulgada pelos familiares. À família e amigos enlutados, nossos sinceros sentimentos.

Valmir Morais e a esposa Bernadete, em entrevista para edição especial da Revista Tempo – Foto: Solon Queiroz

Por Jerusia Arruda

Faleceu na madrugada desta quinta-feira (04/09), em Brasília de Minas, o ex-prefeito de Patis, Valmir Morais de Sá, aos 73 anos de idade. O corpo está sendo velado na sede do Cimams, em Montes Claros. A causa da morte ainda não foi divulgada pelos familiares.

Nascido na região rural de Novorizonte, em um povoado chamado Indaiá, Valmir Morais começou a trabalhar cedo, mas tinha a alma livre demais para se prender a um emprego e logo começou a empreender, até chegar à gestão pública, onde encontrou oportunidade para fazer o que mais gostava: cuidar das pessoas. Como prefeito de Patis, ampliou as fronteiras e se tornou presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) por quatro mandatos consecutivos. Também foi presidente do Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da Área Mineira da Sudene (Cimams), por dois mandatos consecutivos, e diretor da Região Norte da Associação Mineira de Municípios (AMM).

Sobre Valmir Morais

Valmir Morais de Sá nasceu em 05 de fevereiro de 1952, na fazenda Córrego da Chica, numa localidade chamada Mato Fundo, Povoado de Indaiá, na época pertencente ao município de Salinas; hoje, município de Novorizonte.

A família era numerosa, 14 irmãos, filhos de Maximínio Joaquim de Sá e Ormezinda Morais Alves. Na época não havia acompanhamento médico ou qualquer tipo de assistência na região e três filhos morreram do chamado ‘mal de sete dias’, expressão popular para o tétano neonatal, uma doença infecciosa grave e não contagiosa que afeta recém-nascidos nos primeiros 28 dias de vida. Outra criança, a Alice, morreu quando tinha 11 anos de idade de febre tifoide. Restaram 10 filhos.

Na Fazenda Córrego da Chica, os irmãos Valdemar Joaquim, Doralice, Valdete, José, Doreni, Deilda, Idalcy, Valmir Cleonice e João nasceram (nessa ordem) e cresceram tocando gado de engenho, puxando enxada, fazendo farinha e rapadura, cuidando da plantação de café, da horta e das galinhas, pescando, estudando e também brincando e se divertindo muito.

Em 1962, os pais resolveram se mudar com toda a família para Montes ClarosO Sr. Maximínio sofria de diabetes, naquele tempo era muito difícil de tratar. A iniciativa da mudança veio da mãe, Dona Ormezinda, Meza, como era carinhosamente chamada por todos. Ela resolveu mudar para a cidade, abrir uma pensão e começar uma vida nova.

Em Montes Claros, a família Morais de Sá se instalou na esquina da rua Coronel Joaquim Costa com rua Januária, perto do viaduto, onde montou a Pensão Januária. Depois veio a Pensão Morais, na avenida Francisco Sá; e, em seguida, a Pensão Salinas, em frente ao portão principal da Praça de Esportes.

Meza era uma mulher à frente do seu tempo, muito ativa. Não tinha leitura nenhuma, e sem saber ler ela mudou com a filharada toda, batalhou para que todos estudassem. Os irmãos dizem que Valmir herdou essa natureza da mãe: inquieto e desbravador.

Quando Valmir tinha 11 anos, foi levado pela mãe para estudar na Fundação Educacional Caio Martins, em Januária. Era um internato. Ele retornou quando tinha uns 14 anos. Nessa época, a irmã Deilda já havia se casado com um topógrafo que era funcionário da Vale do Rio Doce e morava em Itabira. Valmir e João Morais, o irmão caçula, se mudaram então para lá. Valmir tinha 17 anos e João, 12. João foi estudar e Valmir trabalhar numa empreiteira da Vale. Em Itabira, Valmir prestou concurso para a Vale e passou. Ele já sabia lidar com a terra e na empresa se tornou topógrafo. Foi nessa época que conheceu Bernadete Andrade, ficaram noivos, e se casariam mais tarde.

O trabalho na Vale era um excelente emprego na época, mas quem tem a alma livre não se apega, sabe que a vida é feita para ser vivida intensamente. E Valmir era desinquieto. Ficou dois anos e pouco na Vale e pediu conta, deixou a noiva em Itabira e voltou para Salinas.

Vida nova em Salinas

Especialistas costumam dizer que uma das formas de traçar objetivos futuros é se perguntar onde se deseja estar daqui a alguns anos. Em recente entrevista, Valmir Morais de Sá nos contou que foi exatamente essa ponderação que fez quando trabalhava na Vale do Rio Doce, em Itabira. Pouco depois passar no concurso e ingressar na empresa, aprendeu o ofício de topógrafo. Ao observar os colegas, percebeu que trabalhavam todos os dias sem falhar, e se quisessem viajar para algum lugar teriam que esperar o mês de férias. E o que eles o que eles tinham? Uma casa financiada e um fusca. Todos eles, sem exceção.  Então se perguntou: “É isso que eu vou ter? Eles sou eu amanhã”.

Foi justamente nesta época, insatisfeito com as perspectivas que tinha no trabalho e com disposição para trilhar o próprio caminho, que ele conheceu Bernadete Andrade Coelho, e se apaixonou.

Durante esse tempo, Bernadete diz que Valmir foi se revelando um jovem atencioso, de muita desenvoltura e bem relacionado. “Mas ele é naturalmente empreendedor, de alma livre, não queria ficar preso em uma sala, e logo começou a falar em desistir do emprego na Vale. Quando ele fez 22 anos nós ficamos noivos, ele pediu demissão e foi embora para Salinas; eu fiquei em Itabira. Na época eu estava na faculdade e ele ia me visitar todo mês. Dois anos depois, em 1976, a gente se casou e eu me mudei para Salinas com ele”, conta Bernadete, que passou a se chamar Bernadete Andrade Coelho Morais de Sá.

Em Salinas, Valmir Morais trabalhava com topografia, havia grande demanda na região; Bernadete era professora. Pouco tempo depois, o prefeito da época, Dr. Péricles Ferreira dos Anjos (prefeito de 1977 a 1982), convidou Valmir para ser secretário de Viação e Obras e foi então que ele teve o primeiro contato com a vida pública. “O Dr. Péricles era médico, um homem muito bom, cuidava das pessoas, e Valmir aprendeu muito com ele”, observa Bernadete. Logo vieram os filhos. Beatriz nasceu em 1977, Beane em 1979 e Valmir Filho em 1981.

Montes Claros: uma nova história

Com o fim do mandato do Dr. Péricles, a família decidiu se mudar para Montes Claros. Com a experiência e o conhecimento adquiridos ao longo da vida como agricultor, topógrafo e também como secretário municipal de Obras em Salinas, Valmir Morais decidiu montar sua própria construtora. Em 1989 fundou a Construtora do Norte e começou a captar obras pela região. Começou pequeno, trabalhou muito, fazia várias obras ao mesmo tempo, conheceu muita gente, muitos prefeitos, muita gente importante da região.

Valmir sempre foi uma pessoa de visão, um empreendedor nato, e em pouco tempo conseguiu expandir a construtora, chegando a ter mais de 200 obras em andamento, ao mesmo tempo. Após cinco anos, a Construtora do Norte chegou a ser a segunda construtora em Montes Claros. Eram obras de construção civil, como escolas, pontes, ginásios poliesportivos, passagem molhada. Na época havia uma grande demanda do Ministério da Educação, que estava construindo várias escolas nas cidades da região, muitos municípios recém-emancipados, então foi um período de muito trabalho.

A família Morais era muito unida e, ainda muito jovens, Beatriz e Beane começaram a trabalhar na construtora para ajudar o pai.

Em pouco tempo a família se estabilizou. Beatriz se formou advogada; Beane engenheira civil; e Valmir Filho, engenheiro agrônomo. Depois vieram os netos: Pedro, 27, e Thiago, 20, filhos de Beatriz; Valmir Neto, 17, e Sophia, 07, filhos de Valmir Filho; e Lorenzo, 04, filho de Beane. Em 1990, morre D. Ormezinda, aos 76 anos.

 

Na Fazenda Sussuapara, Valmir Morais iniciou a lavoura de café arábica, além de produzir cachaça e criar gado. Como a lavoura de café exige muita mão de obra, empregava muita gente, do plantio à colheita, e logo ficou conhecido na região como ‘Valmir do Café’ – Foto: Arquivo pessoal

Resgate de um antigo sonho

Passados dez anos, com a família encaminhada e estabilizada, Valmir Morais resolveu resgatar o gosto pela agricultura, comprar uma fazenda e realizar o antigo sonho de plantar café. Comprou, então, a Fazenda Sussuapara, localizada em Patis, município com quase 5 mil habitantes situado a cerca de 100 quilômetros de Montes Claros, vizinho dos municípios de São João da Ponte, Japonvar, Mirabela e São João da Ponte, sendo esta a cidade mais próxima nos arredores.

Na Fazenda Sussuapara, junto com Valmir Morais de Sá Filho, o Valmirzinho, que estava estudando para se tornar engenheiro agrônomo, Valmir Morais iniciou a lavoura de café arábica, além de produzir cachaça e criar gado. Como a lavoura de café exige muita mão de obra, empregava muita gente, do plantio à colheita, e logo ficou conhecido na região como ‘Valmir do Café’.

O negócio com a construção civil iniciado por Valmir Morais no início dos anos 90 acabou sendo substituído definitivamente pelo café. A cultura, iniciada em 1998, se estenderia por duas décadas, quando os pés de café foram arrancados e a atividade encerrada. Durante esse período, a família Morais se dedicou à agricultura e ao convívio diário com os desafios de uma região tipicamente marcada pelos longos períodos de estiagem e seca.

Valmir com a esposa Bernadete, o irmão João Morais, e os filhos Beatriz, Beane e Valmirzinho, em momento de oração, celebrando o aniversário de 70 anos – Foto: Arthur Jr/Ascom Amams

A chegada à política

Patis teve sua emancipação político-administrativa em 21 de dezembro de 1995, passando de distrito para município, sendo Edmundo Versiani de Sousa, o prefeito da cidade na época em que Valmir iniciou a instalação da fazenda de café. Os dois se tornaram amigos e Edmundo Versiani então resolveu convidá-lo para ser o próximo candidato a prefeito da cidade.

Mesmo sem nunca ter sido candidato a nada, Valmir aceitou o convite. Em 2004, foi eleito pela primeira vez prefeito de Patis.  Como tinha grande apoio político em nível regional, estadual e federal, decidiu disputar a presidência da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), que estava naquela época numa situação muito difícil, com apenas 32 prefeitos filiados.

Como prefeito, Valmir criou o grupo dele, e Edmundo e seu irmão Elivaldo Versiani, atual prefeito da cidade, acabaram se tornando adversários políticos. Em 2008, eles disputaram as eleições  e Valmir Morais foi reeleito prefeito para a gestão 2009-2012, e também reconduzido à presidência da Amams, exercendo, assim, quatro mandatos consecutivos à frente da Associação, contribuindo para que a entidade continuasse cumprindo a importante e difícil missão de participar ativamente das conquistas do povo norte-mineiro.

Dentre as muitas conquistas desse período como presidente da Amams, destaca-se a liderança de Valmir Morais ao Movimento Catrumano, que resultou na Emenda 89 à Constituição do Estado de Minas Gerais, promulgada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 2011, instituindo o Dia dos Gerais, comemorado em 8 de dezembro, como uma das três datas magnas do Estado. Todos os anos, nesta data, a capital mineira é transferida simbolicamente para a cidade de Matias Cardoso, no Norte de Minas, primeiro vilarejo a ser constituído no Estado. As outras datas em que ocorre essa transferência são: 21 de abril, dia de Tiradentes, para Ouro Preto; e no dia do Estado de Minas Gerais, em 16 de julho, para Mariana. A emenda dá nova redação ao artigo 256 da Constituição Estadual, que trata dessas datas magnas.

Depois que completou o segundo mandato, Valmir lançou o candidato dele e Edmundo lançou o sobrinho, Vinicius Versiani, que venceu a disputa e ficou por um mandato.

Em 2016, Valmir Morais se candidata novamente e vence as eleições. Quando foi para a reeleição, em 2020, convidou Elivaldo Versiani para ser seu vice, e venceram juntos a eleição. Em 2024, Valmir lançou Elivaldo Versiani como candidato a prefeito, pelo União Brasil, vencendo o pleito mais uma vez.

Presidência do Cimams

No dia 13 de dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Montes Claros realizou sessão especial em homenagem aos Cimams. Aproposição foi do vereador Soter Magno (PSD) – Foto: Ascom Câmara Moc

Em 2021, Valmir Morais de Sá, que já integrava a diretoria do Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da Área Mineira da Sudene (Cimams) na gestão de Edmárcio Leal, foi eleito sucessor do presidente por aclamação, trazendo à entidade a experiência de oito anos à frente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) – de 2005 a 2012 -, e exercendo o terceiro mandato como prefeito de Patis. Em 2023, Valmir Morais seria reeleito presidente do Cimams, permanecendo no cargo até 31 de dezembro de 2024.

Ao ser eleito presidente do Cimams pela primeira vez, em seu discurso de posse Valmir Morais anunciou que sua meta inicial seria expandir o consórcio e dobrar o número de municípios filiados e, assim, tornar o Cimams o grande elo de aglutinação da força política da região.

Ato contínuo, Morais anunciou que sua primeira ação como presidente seria a mudança da sede administrativa do Cimams para um espaço adequado, até que a sede própria fosse construída. Em menos de dez dias o consórcio já estava instalado na rua Tapajós, 441, bairro Melo, região central de Montes Claros, inclusive com espaço para realização de reuniões e conferências, com capacidade para cerca de 150 pessoas.

O novo presidente teria, à frente, o desafio de realizar a construção do Centro de Convenções do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. Os recursos já estavam garantidos e era preciso realizar a licitação. O principal desafio foi a contrapartida, pois o Cimams, naquele momento, tinha como única fonte de renda o rateio pago pelos consorciados. Com a doação do terreno pelo município de Montes Claros, foram então concretizados os atos necessários para a contratação e execução da obra. Valmir Morais assinou a ordem de serviço para dar início à construção em fevereiro 2022.

À época, o presidente do Cimams destacou que o setor turístico das duas regiões passaria a fazer parte das discussões políticas de investimentos e da atração de negócios. “Estamos adequando o Cimams a um novo tempo e a união e a parceria são as ferramentas essenciais para fortalecer a cooperação entre os municípios. Sem dúvida, o Centro de Convenções vai integrar ainda mais as regiões Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha”, prospectou. Dois anos depois a obra foi concluída e inaugurada no dia 10 novembro de 2024.

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