
Mais um presente
Avança na Câmara dos Deputados, por meio do consórcio formado pelo Centrão e pela extrema-direita, a proposta de anistia para os golpistas de 8 de janeiro. Aprová-la na Câmara não será difícil, já que exige apenas maioria simples. No Senado, porém, dificilmente passa com o texto que a Câmara quer. O senador Davi Alcolumbre (União Brasil), presidente do Congresso, defende reduzir as penas para a população que serviu de massa de manobra dos articuladores do golpe, mas não conceder anistia aos que são apontados como mandantes.
Mais um presente II
Se uma anistia ampla, geral e irrestrita escapar do controle de Alcolumbre e for aprovada também no Senado, será barrada no Supremo Tribunal Federal (STF). De todo modo, apenas o fato de pautar essa discussão e tentar empurrá-la a qualquer custo já oferece a Lula (PT) mais um presente político. O presidente conseguiu emplacar a narrativa de que, enquanto seu governo defende o Brasil e os brasileiros que mais precisam — como apontam os indicadores de melhora na avaliação e na intenção de voto —, o Centrão e a extrema-direita agem para manter privilégios dos super-ricos, entre os quais se encontram muitos de seus próprios deputados, além de proteger poderosos.
Mais um presente III
A maioria dos políticos do Centrão é eleita por razões variadas, que vão do fisiologismo à força eleitoral regional, quase sempre com pouco lastro ideológico ou popular. Antes das emendas impositivas no Orçamento da União, o bloco não tinha qualquer interesse em ganhar a Presidência da República: contentava-se em negociar com quem vencesse. Agora, com grande parte do orçamento discricionário sob seu controle, o Centrão quer gerir todos os gastos do governo, inclusive dos ministérios, garantindo que nunca faltem recursos para suas emendas — ainda que falte para outras áreas. Como o governo Lula resiste, embora preso a esse mecanismo, mudar o comando do Executivo virou prioridade para os partidos do bloco.
Mais um presente IV
No caso da anistia, engana-se quem acredita que o Centrão tem real interesse em recolocar Jair Bolsonaro (PL) no jogo como candidato. O que desejam, de fato, são apenas os votos dele, para que sejam usados como plataforma para o candidato de sua preferência. Hoje, esse nome é Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Ao simular empenho pela anistia de Bolsonaro e evitar que ele seja preso, o Centrão busca neutralizar um futuro argumento dos bolsonaristas mais radicais de que o ex-presidente foi traído quando o bloco lançar outro candidato — seja Tarcísio, seja alguém fora da família Bolsonaro. No fundo, trata-se mais de retórica do que de convicção.
Mais um presente V
Lula e o PT assistem ao desenrolar dessa disputa. É claro que trabalharão contra a anistia. Mas, diante da rejeição de Bolsonaro e dos números que indicam que hoje o antibolsonarismo supera o antipetismo, Lula tem vantagem se enfrentar um candidato da família Bolsonaro ou se conseguir colar a imagem do ex-presidente em qualquer nome apoiado pelo Centrão e pela extrema-direita. Nas eleições para cargos executivos, o eleitor tende a votar mais contra do que a favor. É assim que deve se decidir o pleito de 2026: acirrado, e com vantagem para quem errar menos. Pelos erros seguidos do consórcio Centrão–extrema-direita, Lula voltou ao jogo e mostra ânimo renovado.
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