Magalhães Pinto, ex-governador de Minas Gerais, cunhou uma frase que entrou para o folclore da política e que costumo repetir nesta coluna: “a política é como nuvem, uma hora está de um jeito, outra hora está de outro”. Pois bem, a julgar pela visita de Lula a Minas Gerais nesta sexta-feira (29), a nuvem do momento indica que o senador Rodrigo Pacheco, ainda no PSD, deverá ser o candidato apoiado pelo presidente ao governo do Estado. Em seus discursos, Pacheco falou com a desenvoltura de quem já está em campanha, enviando recados contundentes aos opositores de Lula.
Jogo aberto
A disputa pelo Governo de Minas está completamente aberta. O favorito, em razão da alta aprovação do governador Romeu Zema (Novo), segue sendo o vice-governador Mateus Simões, também do Novo. Embora ainda não tenha decolado nas pesquisas, a tendência é de crescimento à medida que o pleito se aproxima — como costuma ocorrer com candidatos apoiados por governantes bem avaliados. A exceção a essa regra se dá quando o incumbente está em situação caótica de aprovação, o que definitivamente não é o caso de Zema. No entanto, desde que se lançou pré-candidato à Presidência e radicalizou o discurso para atrair o eleitor órfão de Jair Bolsonaro (inelegível e possivelmente preso em 2026), a aprovação de Zema, embora ainda alta, apresenta sinais de queda nas pesquisas recentes.
Jogo aberto II
A estratégia de Zema é arriscada. Ao partir para um vale-tudo em nível nacional, em busca de se tornar o nome do bolsonarismo nas eleições presidenciais, ele pode inviabilizar todo e qualquer voto progressista em seu candidato ao Governo de Minas. Convém lembrar que, em 2022, mesmo com Zema reeleito no primeiro turno com 56% dos votos, o candidato de centro-esquerda, Alexandre Kalil (PSD), alcançou 35% — percentual considerado por muitos analistas como o piso de qualquer candidato que venha a ser apoiado pelo presidente Lula no estado.
Além disso, há a possibilidade real de a direita mineira chegar dividida em 2026, como ocorreu em 2022 (quando Carlos Viana foi candidato pelo PL). A diferença é que, desta vez, a candidatura alternativa pode ter maior competitividade.
Jogo aberto III
O senador Cleitinho (Republicanos), líder nas pesquisas atuais, não tem nada a perder ao disputar o governo, já que ainda terá quatro anos de mandato no Senado. Ele e Mateus Simões disputam o mesmo eleitorado. Por isso, radicalizar a imagem de Mateus como um candidato de extrema-direita, à imagem de Zema em nível nacional, pode não ser um bom negócio para o grupo governista.
Atento a esse movimento, Cleitinho manteve sua proximidade com a extrema-direita em pautas de costumes e na defesa de Bolsonaro, mas passou a adotar bandeiras econômicas e sociais da esquerda, como o fim da escala 6×1, a taxação dos super-ricos, o apoio ao veto de Lula contra o aumento no número de deputados e a isenção do Imposto de Renda para as faixas de menor renda.
Jogo aberto IV
Resta observar se a recuperação que Lula (PT) vem ensaiando nas pesquisas — tanto de aprovação de governo quanto de intenção de voto para 2026 — vai se consolidar e, em caso positivo, se irradiará para os estados, beneficiando seus aliados. Outro fator relevante será o impacto do desgaste político causado pelas pautas impopulares defendidas por grande parte do consórcio Centrão-oposição de direita no Congresso: as taxas que Trump impôs à economia do Brasil a pedido da família Bolsonaro, a PEC da Blindagem, o aumento no número de deputados, a liberação de emendas sem transparência, além das tentativas de barrar a taxação dos super-ricos, mecanismo de compensação para viabilizar a isenção do IR para a população de baixa renda. Tudo isso poderá influenciar não apenas a eleição presidencial, mas também as disputas estaduais em 2026.
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