Por Alberto Sena
Por esses dias ouvi uma gravação do programa da Rádio Terra, de Montes Claros, intitulado “Gente que faz a terra”. Na edição referida, o depoimento foi do poeta escritor professor Wanderlino Arruda, rotariano de primeira hora, ex-vereador da Câmara Municipal.
Achei a ideia do programa muito boa porque se a mídia montes-clarina não registra o depoimento de pessoas que têm a memória da Montes Claros antiga, tudo se perde na voragem do tempo.
As gerações de hoje e as que ainda virão precisam saber que Montes Claros nem sempre foi assim, revestida de metrópole, como foi encontrada por elas. Wanderlino disse bem, e eu que sou do tempo descrito por ele, confirmo tudo.
A cidade, na minha meninice era circunscrita, no rumo Norte, até as imediações da Praça de Esportes (e uns dois quilômetros além, a Vila Ipê) e Alto São João, já retirado; a Leste, ia até o 10° Batalhão da Polícia Militar; a Oeste, chegava à Santa Casa; e ao Sul, alcançava o Morrinhos, atrás do qual tinha várias “casas populares”. Entre a Ponte Preta e o Cemitério do Bomfim nada havia além da vegetação rasteira do Cerrado e uns poucos casebres.
Mas o objetivo desta minha inserção é para dizer da importância desse programa na preservação da memória coletiva da cidade. Na certeza de que as pessoas morrem, é de bom alvitre sejam ouvidas sobre como era a cidade antes de acontecer essa explosão urbana, em menos de meio século.
Contar como era Montes Claros na década de 1940, como Wanderlino contou, é uma boa pauta para um repórter arguto tentar encontrar pelo menos alguns indícios da era dos cassinos. Onde eles eram localizados na cidade? Será que existe algum imóvel da época? No mínimo dá uma boa reportagem.
Na mesma ocasião, como lembrou Wanderlino, havia em Montes Claros uma quantidade enorme de zonas boêmias. Acho que “Zé Coco” foi a que mais resistiu.
Vinham para a cidade mulheres de várias partes do País porque o movimento era internacional devido aos cassinos.
Wanderlino, como jornalista que também é, demonstrou ter boa memória, imprescindível para quem é repórter. Enquanto ele dizia na gravação sobre a Montes Claros de então, tudo ia passando em minha mente como numa fita de cinema.
Ele foi meu professor de Português, quando cursei o Científico, na Escola Normal nova, na Avenida Mestra Fininha. Gostava da aula dele, de didática boa. Na época, eu já dava os primeiros passos na carreira de jornalista, como repórter do O Jornal de Montes Claros.
Wanderlino fez o “posfácio” do meu segundo livro, Retrato De Nós Mesmos – Em Preto e Branco P&B”, lançado em fevereiro, no Centro Cultural de Montes Claros, durante a Festa Nacional do Pequi, e na Livraria Nobel, no Montes Claros Shopping, onde pode ser adquirido.
Ele tem todo o meu respeito pela figura humana que é. Não nasceu em Montes Claros, mas é um montes-clarino de corpo e alma, conhece os primórdios desta nossa urbe mais do que muitos nascidos lá.
O que mais me impressiona nele é a sua versatilidade e dinamismo. Wanderlino é um espírito inquieto no melhor sentido. Na Montes Claros, a partir da década de 1950, há a participação dele em muitos acontecimentos importantes da nossa urbe querida, mormente os de ordem cultural e social à frente do Rotary Clube.
Wanderlino possui asas. Ele voa. E tem assento de destaque na história de Montes Claros.